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ESMPU promove letramento em Justiça Climática
As mudanças climáticas são uma realidade global. Contudo, suas consequências impactam a população de forma distinta e estão relacionadas às desigualdades sociais, raciais e econômicas. A fim de proporcionar letramento sobre o tema, a Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) promoveu, nesta segunda-feira (18), o webinário “Justiça Climática”, transmitido pelo canal da instituição no YouTube. Clique aqui para assistir.
“O conceito de Justiça Climática nos convida a ir além da discussão ambiental e olhar para outras áreas, outros saberes. Também traz a perspectiva da equidade e lembra-nos que os impactos da degradação ambiental não são sentidos de maneira igual por todos e afetam de maneira desproporcional as comunidades em situação de vulnerabilidade”, explicou a orientadora pedagógica da atividade, a procuradora da República Fabiana Schneider.
Impactos e estratégias para sobrevivência – O arquiteto e urbanista Renato Anelli, pesquisador do Projeto Internacional Klimápolis (Brasil-Alemanha), rede de pesquisa com ênfase nas áreas urbanas e comunidades vulneráveis, discorreu sobre os impactos e as estratégias para sobrevivência ao aquecimento global. “Precisamos ter uma ação mais incisiva no processo de mitigação, que significa a redução das emissões dos gases do efeito estufa”, alertou. Segundo o pesquisador, o principal problema para enfrentar a mudança climática é a recusa em aceitar que seus motivos sejam relacionados à ação do homem, antrópica, o que retarda ou impede a implementação das recomendações acordadas nos tratados internacionais.
Para discutir habitabilidade e injustiça climática, o webinário recebeu o doutor em Filosofia Ambiental Emanuel Mello de Castro, que descreveu cenários catastróficos para o futuro. “O meio ambiente determina o nosso modo de vida. O Holoceno trouxe a estabilidade do clima, o que permitiu o aparecimento de culturas, de civilizações, de cidades. Tudo de que nós nos orgulhamos hoje. Contudo, há 200 anos, com a Revolução Industrial e a emissão de carbono na atmosfera, essa estabilidade começou a nos abandonar. Ondas de calor e inundações estão cada vez mais regulares. Hoje estamos no Antropoceno, marcado por uma instabilidade climática muito grande, uma verdadeira catástrofe climática”, alertou.
Políticas urbanas e habitabilidade – A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik abordou temas afetos a políticas urbanas e habitabilidade, e criticou a falta de um marco legal de proteção à moradia. “Nunca vi um projeto de infraestrutura ou de construção voltado a favelas, comunidades e bairros periféricos autoproduzidos que pensasse no reassentamento dessas famílias e, muito menos, discutisse com elas as alternativas possíveis. Estamos falando de uma política discriminatória, discricionária, que atinge, em sua maioria, casas lideradas por mulheres não brancas. Estamos falando de negros, indígenas, em situação de precariedade habitacional e insegurança de base. Essa é a história da inserção habitacional da maior parte do nosso país. Essa é a base da economia política da remoção, do risco ambiental e do desastre”, acrescentou.
“Capitaloceno” – O historiador ambiental e geógrafo histórico na Universidade de Binghamton Jason W. Moore, que difundiu o termo “Capitaloceno”, apresentou uma análise histórica e estrutural da crise climática. Para o historiador, as mudanças climáticas são responsabilidade da classe capitalista e das 150 corporações transnacionais responsáveis por mais de 70% das emissões globais de carbono e gases de efeito estufa desde 1850.
A última participação foi do advogado e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) Daniel Sarmento, que discorreu sobre a fragilidade dos Estados para enfrentar o desafio da crise climática. Ele afirmou que o cenário não dá muito espaço para o otimismo, citando a famosa frase do filósofo britânico Mark Fisher: “É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”.
Segundo o professor, o esgotamento dos recursos naturais, o crescimento da competição e do egocentrismo, a falta de instituições globais multilaterais que deem conta do recado, o tempo da democracia, com eleições de curto prazo para resolver questões de longo prazo, e a desinformação, que fortalece posições anticlimáticas, tudo isso amplia a Justiça Climática.
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