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Especialistas debatem a escravidão digital sob a ótica de gênero, raça e saúde mental

Foram abordados temas como escravização dos trabalhadores mediada pelas plataformas digitais, racismo algorítmico e estratégias jurídicas de enfrentamento
publicado: 25/11/2025 15h43 última modificação: 25/11/2025 16h05

A Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU) realiza nesta terça-feira, 25 de novembro, o webinário “Escravidão digital na interseccionalidade de gênero e raça, e seus impactos na saúde mental”. A atividade, com transmissão ao vivo pelo canal da ESMPU no YouTube, objetiva promover a reflexão sobre as novas formas de escravidão digital e seus efeitos na saúde mental de trabalhadoras e trabalhadores, sob a ótica de gênero e raça. Clique aqui para assistir.

A orientadora pedagógica do webinário e secretária da Comissão de Prevenção ao Assédio Moral e Sexual e à Discriminação da Procuradoria da República no Amapá (PR/AP), Elaine Maria Pena dos Santos Rocha, pontuou a importância do debate, surgido diante da necessidade das comissões de abordar o adoecimento mental, recentemente potencializado por novas situações causadas pela digitalização.

O primeiro painel, “Algoritmos de aço e mentes cansadas: a escravidão digital na encruzilhada de gênero, raça e a saúde mental do trabalhador negro”, com a psicanalista clínica e forense, neuropsicopedagoga e neurocientista Bianca de Souza Fonseca, trouxe reflexões sobre a escravização digital e os processos de economia de tempo promovidos por meio da exploração dos trabalhadores mediada por plataformas e tecnologias, que resultam na precarização do trabalho e na invisibilização do trabalhador.

Fonseca esclareceu que, para a comprovação do trabalho, existe uma busca visível, relativa às condições de trabalho comumente observadas, tais como condições das instalações físicas e contratuais. Em relação ao controle por meio das tecnologias, a psicanalista ressaltou que novas formas de opressão devem ser observadas, como a obrigatoriedade de o trabalhador estar online e disponível durante toda a prestação do trabalho, com intervalos rigidamente controlados. “A nossa matriz continua sendo uma matriz de exploração, onde a nossa escravidão digital também é mediada pela raça e pelo gênero. Quem são os trabalhadores mais dependentes da tecnologia hoje? São em geral aqueles que trabalham de forma autônoma. São jovens, na maioria negros ou pardos, e mulheres”, destacou.

Para Fonseca, o adoecimento mental dos trabalhadores também está diretamente ligado a uma estrutura de vulnerabilidade social e à interseccionalidade de gênero e raça presente em algoritmos de sistemas de contratação, avaliação de crédito e vigilância, que reproduzem exclusão histórica e geram impactos distintos. “Mulheres negras acumulam dupla jornada e cuidados via plataformas, o que aumenta a precarização e a invisibilidade. Ao passo que homens negros se concentram em plataformas mais perigosas, enfrentando exclusão e riscos de violência no trabalho”, afirmou.

Por fim, a psicanalista ressaltou a importância da atuação do Ministério Público para identificar o vínculo dos trabalhadores com as plataformas digitais para responsabilização das empresas nas causas trabalhistas, bem como para a implementação de outras ações integradas a fim de garantir direitos e promover a saúde dos trabalhadores. “Precisamos que a tecnologia seja aliada, e não um mecanismo discriminatório. Que ela seja uma ferramenta de emancipação, e não de servidão”, concluiu.

Programação – O webinário continua no período vespertino com o segundo painel, “Tecnologia e bem-estar: desvendando a saúde mental dos trabalhadores vulneráveis na era digital”, ministrado pelo professor do Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ) Ênio Dias Júnior. 

 

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