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Simpósio em Brasília discute sistemas de investigação criminal
O objetivo também foi analisar os efeitos decorrentes da Proposta de Emenda à Constituição n. 37/2011 (PEC 37), rejeitada pela Câmara dos Deputados na noite do dia 25. O tema permeou as palestras e os debates, acompanhados por um público de cerca de 150 pessoas.
Na abertura do simpósio, o procurador-geral da República,
Roberto Gurgel, elogiou a iniciativa da ESMPU, que propôs o debate do tema sob
um ponto de vista acadêmico. “É fundamental que essas discussões sejam sempre
plurais”, declarou. Roberto Gurgel ressaltou a necessidade de se repensar o
sistema de investigação criminal, defendendo maior integração entre as
instituições no combate ao crime.
De acordo com o orientador pedagógico do simpósio, o
procurador da República Daniel Salgado, o sistema clássico de investigação
criminal encontra-se falido. “Precisamos discutir um modelo de investigação
criminal que venha a ser mais efetivo, mais célere, menos bacharelesco, menos
burocrático e menos cartorial”, afirmou.
A primeira palestra foi ministrada pelo procurador da
República Marcelo Miller, que apresentou um histórico sobre o Ministério
Público e a polícia e abordou, sob a perspectiva do direito comparado, os
sistemas de investigação criminal, destacando a exclusividade do MP na condução
de investigações e o papel da polícia como auxiliar nesse trabalho, em países
como Alemanha, França, Itália, Portugal, Chile e Argentina. Ao tratar da PEC
37, que pretendia retirar do MP a função investigatória, o procurador foi
enfático: “O Ministério Público brasileiro tem de ter a atribuição de conduzir
investigações criminais. O direito comparado ampara com folga essa minha
percepção”.
Para tratar do inquérito policial no Brasil e defender o
ponto de vista dos agentes de polícia sobre a investigação criminal no país, o
vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís
Antônio Boudens, apresentou o estudo contido no livro O Inquérito Policial no Brasil, do cientista social Michel Misse. De acordo com Boudens, é necessário
modernizar a investigação criminal: “No Brasil, a investigação não começa na
cena do crime, como ocorre em países como os Estados Unidos”. Com base nos
estudos de Michel Misse, o vice-presidente da Fenapef destacou algumas
propostas para um modelo mais eficiente de investigação, tais como a exclusão
da fase de indiciamento e a implantação de um ciclo completo de polícia. “Trata-se
de um ciclo perfeito, em que seriam executadas as funções judiciário-investigativa
e ostensivo-preventiva pela mesma instituição policial”, concluiu.
A última palestra
do simpósio foi conduzida pelo procurador regional da República Wellington
Saraiva, que também é integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ele falou
sobre a investigação criminal, a PEC 37 e os argumentos, segundo ele, equivocados
a respeito da proposta. O procurador fez um contraponto a teses favoráveis à
PEC, como a falta de autorização normativa do Ministério Público para
investigar, a ausência de controle das investigações conduzidas pelo órgão, a
imparcialidade da polícia, a especialização dos delegados. “Muitos
defensores da PEC 37 estão sinceramente convencidos de que a proposta é boa.
Mas há outros que, de propósito, usam argumentos que sabem ser falsos, e isso
não deveria acontecer em uma discussão democrática honesta”, disse Wellington.
Debatedores do simpósio, o procurador da República Bruno
Calabrich e o conselheiro do CNMP Mario Bonsaglia destacaram a participação da
sociedade nas discussões sobre a PEC 37. “As últimas semanas têm mostrado de
forma inequívoca que os cidadãos não só não querem essa PEC como vêm apoiando o
Ministério Público, mesmo com todas as suas falhas, para que ele continue a exercer
seu papel mais e melhor”, afirmou Calabrich. “O povo está atento e apelidou a
proposta de PEC da impunidade. Não há dúvida de que impedir 12 mil membros do
Ministério Público de investigar significaria mais impunidade, corrupção e
violação dos direitos humanos”, alertou Bonsaglia.
No momento em que o simpósio era encerrado, a PEC 37 estava
na pauta de votações da Câmara dos Deputados, com indicação à rejeição pelo Colégio
de Líderes da casa legislativa. Em suas considerações finais, o diretor-geral
da ESMPU, Nicolao Dino Neto, alertou para um possível momento pós-PEC, quando,
segundo ele, será necessário refletir não mais sobre a legitimidade do
Ministério Público para investigar crimes, mas sobre os motivos que levaram à
criação de uma proposta nesse sentido. Para ele, uma das razões seria o
isolamento institucional que o Ministério Público se impôs. “Se houver um
momento pós-PEC, precisaremos pensar em um novo modelo de persecução criminal,
como propôs este simpósio, mas também em uma nova forma de o MP
interagir com as demais instituições de Estado. Esta é a grande lição que temos
de extrair deste momento histórico”, concluiu.
O simpósio contou ainda com a participação do jornalista
Juliano Basile, do secretário-geral do MPF, Lauro Cardoso Neto, do
procurador-chefe da PR/DF, Carlos Henrique Martins, e do vice-presidente da
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho
Cavalcanti.
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